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A difícil pedagogia da pandemia

Por Noédson C. Santos*

Estamos encerrando mais um ano de trabalhos arteducativos com crianças, adolescentes, jovens e seus familiares com a certeza de que o Desejo é o fio condutor de nossa vitalidade. Os últimos meses, carregados de austeridade e incertezas, não desmobilizaram e desviaram nossos olhares para as urgências da rua.

Fomos forjados numa ética cidadã, através de um compromisso inabalável com a justiça social e a crença de que um mundo melhor só será possível quando os direitos sociais, educacionais, civis e políticos foram assegurados amplamente a todas e todos desta nação.

O Projeto Axé fez presença constante nas diversas frentes de atenção socioassistencial, através de parcerias e diálogos com o poder público, iniciativa privada e sociedade civil articulada para responder às necessidades da população em situação de risco, rua e vulnerabilidade no município de Salvador.

Neste ano, em que comemoramos trinta anos de existência e resistências, tivemos que nos reconectar com nossa missão institucional para driblar as adversidades e vencer as dificuldades impostas pela Pandemia provocada pela Covid-19. Entre distanciamentos físicos e rearranjos afetivos, laborais e simbólicos, fomos todos(as) convidados(as) a ressignificar nossos ofícios e políticas de cuidado e proteção à vida.

A difícil pedagogia da pandemia nos mostrou uma sociedade ainda mais desigual, desinteressada nas proteções coletivas e o descompromisso de governos com o interesse público e as políticas sociais direcionadas a população em situação existencial de rua.

Entretanto, esse momento delicado também descortinou uma profusão de saberes marginais e contra hegemônicos. A união livre de atores e agentes sociais fez a diferença nesta caminhada de enfrentamento à pandemia. Centenas de mulheres e homens interessados(as) em construir soluções e alternativas à crise, puseram-se na linha de frente para seguir atendendo, acolhendo e assistindo os mais necessitados e desamparados.

O Projeto Axé se manteve na trincheira, elaborando programas de atenção assistencial, presencial, semipresencial e remotamente às famílias e aos mais de 400 educandos(as). Estivemos preocupados com a segurança alimentar e nutricional, com o acesso aos serviços do sistema de garantia de direitos e sobretudo com a manutenção das atividades arteducativas e pedagógicas de nossos(as) educandos(as).

Através de ações articuladas conseguimos manter os atendimentos e o olhar sensível para as angústias de centenas de famílias atendidas ao longo destes últimos meses.

Encerramos 2020 com a certeza de que em tempos de austeridade, só a força e a grandeza da união das pessoas é capaz de construir um mundo mais solidário, humano e fraterno. Este ano, estivemos ladeados, conectados e irmanados apesar das distâncias físicas, construindo pontes e ressignificando relações. Substituímos os abraços e apertos de mãos pelos sorrisos e olhares. Fizemos de nossas capacidades imaginativas uma fonte inesgotável de afeto e cuidado para nos mantermos conectados com nossos(as) educandos(as) e seus familiares.

Essa força, que chamamos de Axé, foi e sempre será nosso maior recurso de vitalidade.

 

*Técnico em Atividades Educacionais da Coordenação de Arteducação do Projeto Axé