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Buscando um fazer-pensar diferenciado para prática de dança no Projeto Axé

Por Raimundo Simôes de Santana*

Este artigo busca analisar a presença da didática – incluindo metodologias e atitudes pedagógicas de Carlos Moraes – na minha prática profissional em contextos de educação não formal em Dança, em especial no Projeto Axé. Como objetivos específicos, trago a importância de compreendermos os elementos e princípios que constituem as Técnicas do Ballet Clássico e da Capoeira, possibilitando a construção de um diálogo, uma interface, criando uma metodologia interdisciplinar com possibilidades de aplicação junto aos jovens do projeto Axé. Neste sentido pretende-se que esta contribuição artística e pedagógica possa fazer parte do repertório teórico conceitual e prático artístico-pedagógico do Programa Educacional do Projeto Axé.

A minha metodologia de pesquisas, além de estudos atualizados nas áreas citadas – Ensino do Ballet Clássico e da Capoeira – iniciei um processo de entrevistas com profissionais com quem Carlos Moraes atuou a durante décadas, para entender esta relação com estes campos de interesse, assim como o trabalho social possibilitando uma valorização dos jovens capoeiristas com potencial para a dança, a partir de princípios sócio-artístico-educativos. Dessa forma, percebe-se não só grande convergência de interesses meus profissionalmente como um alinhamento de práticas e atitudes emancipatórias de inclusão de jovens a partir da Arte, percebidas claramente nos objetivos e práticas pedagógicas do Projeto Axé.

Por outro lado, a pesquisa em curso no Mestrado Profissional tem possibilitado um estudo mais criterioso na busca da compreensão de estudos teóricos, de técnicas e estéticas pautadas nas danças populares, de matrizes africanas e em especial a capoeira, com possibilidade de articulação inter e multidisciplinares com o Ballet Clássico na minha prática no Projeto Axé.

Trazendo Brandão (2017) a interdisciplinaridade, deve ser entendida como um exercício para o pensamento complexo. Para melhor compreendermos nos reportamos ao Manifesto da Transdisciplinaridade, proposto por Basarab Nicolescu, em 1999, onde referenda-se a necessidade de laços entre as diferentes disciplinas, a respeito do conceito da multi/pluridisciplinaridade e da interdisciplinaridade, descrevendo a seguir:

“[…] a multi/pluridisciplinaridade diz respeito ao estudo de um objeto de uma mesma e única disciplina por várias disciplinas ao mesmo tempo. Com isso, o objeto sairá assim enriquecido pelo cruzamento de várias disciplinas. A interdisciplinaridade tem uma ambição diferente daquela da multi/pluridisciplinaridade, ela diz respeito à transferência de métodos de uma disciplina para outra” (NICOLESCU, 1999, p. 21-22) (grifo nosso).

Sabe-se que tanto a multi/pluridisciplinaridade quanto a interdisciplinaridade ultrapassam as disciplinas, mas suas finalidades continuam inscritas na estrutura da pesquisa disciplinar. O que garantiria uma transformação tanto no fazer quanto no pensar seriam mudanças de valores, pressupostos e atitudes, comprometidos com um pensamento complexo do homem e do mundo.

Dou destaque à pesquisa que venho desenvolvendo que tem atenção e sintonia ao Programa Educacional do Projeto Axé, onde atuo profissionalmente, referenciado por uma educação como prática de liberdade e voltada para a autonomia, como vemos em Paulo Freire  e com a perspectiva de Lia Robatto, abordando a dança como via privilegiada de Educação, que completa um sentido fundamental para a proposta político-pedagógica do Projeto Axé. Observo assim que os princípios trabalhados, artísticos e pedagógicos atravessam tanto a prática de Carlos Moraes, quanto a do Projeto Axé e que se materializam na minha prática cotidiana com os educandos.

Concluo com o depoimento da minha orientadora, profa. Beth Rangel: “É uma oportunidade o acompanhamento e orientação do processo de qualificação profissional, a partir do seu ingresso no mestrado profissional stricto-sensu de Raimundo enquanto artista, educador social e pesquisador. O esforço em reconstruir as memórias sobre as vivências compartilhadas com o Maître de Ballet Carlos Moraes, lembrando situações que denotam um compromisso social e uma visão inclusiva desde então, marcavam posição na década de setenta, para a inclusão de adolescentes e jovens negros, capoeiristas com potencial para a dança, no contexto profissional da dança das academias e nos grupos profissionais baianos, a exemplo da estatal Ballet do Teatro Castro Alves, identificando desta forma princípios sócio-artístico-educativos. Moraes é uma referência para gerações e precursor de iniciativas e de atitudes emancipatórias no campo da dança, a mais de quarenta anos”.

Lembra ainda, a partir de um olhar  de complementaridade de saberes e métodos multidisciplinares, como convoca a complexidade que vivemos,  a possibilidades de criação redes de conhecimentos, trazendo princípios e métodos dos estudos do Ballet Clássico e da Capoeira, como forma de  construção de interfaces e conversas não só com os sujeitos envolvidos, como com o contexto do Projetos Axé e seu Programa Educacional, que é distinguido pela sua experiência nos campos da educação e da arte, com impactos reconhecidos socialmente.

A partir deste olhar que percebo a Dança como área de Conhecimento com potencial para contribuir com processos de formação de crianças e jovens no Projeto Axé, em contexto não formal, a pesquisas tem se encaminhado para a identificação de princípios que constituem a Capoeira e o Ballet Clássico numa proposição colaborativa e que produz referenciais artísticos e educativos em diálogo com a Pedagogia do Desejo que se aplica nesse espaço educativo.

*Arteducador do Projeto Axé – Unidade de Dança e Capoeira Augusto Omolu